O escritor convidado de Leitores & Escritores de 13/04/2021 é:
Cassiano Silveira. Nascido em Floripa/SC (1980) e atualmente morador da vizinha cidade de Palhoça, formou-se historiador e atuou na área da arqueologia por mais de 10 anos. Interessou-se por livros e ilustrações desde tenra idade, tendo lido inúmeros romances e escrito umas tantas poesias quando adolescente. As poesias foram destruídas em um arroubo passional dos tempos de recém-casado (Declara-se: –Amo-te cada dia mais, Mony!), mas a influência de Mário Quintana permaneceu. A ironia de Luiz Fernando Veríssimo também deixou marcas em sua produção textual. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas “Os Cabeçudos”, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Ainda em 2017 nasceu o até agora único filho, que virou de cabeça para baixo – e para muito melhor – sua vida. Publicou artigos científicos e poemas em várias revistas e coletâneas (destacam-se o artigo Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia, Revista Tempos Acadêmicos, 2012; e os poemas Cama de Mármore, Revista Poité, 2006; Velório, PerSe, 2021 e Olho-mar, PerSe, 2021).
Dedica-se hoje à produção de textos (entre poesias e contos), capas e ilustrações.
Capa Cassiano Silveira |
Capa Cassiano Silveira |
Capa Cassiano Silveira |
Cama de Mármore
Após comer os restos
Deita-se com a tristeza
E o peso da culpa
O cheiro da morte
Inferniza aqueles
Que não sabem que já estão
Mortos de medo
(publicada em “Revista Poité ”, 2006)
Olho-mar
Começa aos poucos. Aquele alegre dia de sol vai cedendo lugar às nuvens escuras. Na praia as água convidativas, calmas e mornas, lentamente ficam turvas e mexidas. As marolas gracejosas e espumas inocentes se revoltam, se quebram num furor crescente.
O vento salpica água salgada, que escorre pela expressão constrita do teu rosto de mulher. As ondas fortes batem compassadas, espancam as rochas caladas, derrubam e arrasam o quebra-mar. O som do trovão emudece a mente, o brilho de um raio revela o pranto furioso do mar. A longa noite de açoites passa em minutos eternos, o corpo de costão sofrendo em soluços profundos.
Mas a tempestade sempre acaba. A manhã seguinte encontra os destroços na praia, peixes mortos pela areia, as baleeiras encalhadas, gosto e cheiro de ressaca. Encontra as redes rasgadas e as pessoas silenciosas, as pedras imutáveis e as coisas mudas. Encontra tudo no seu indevido lugar. A manhã também encontra o mais importante: um mar em calmaria.
Esse mar dos teus olhos.
(publicada em “Coletânea A Lágrima e o Tempo”, Ed. PerSe, 2021)
Velório
Essas velas
Que o tempo consome
Esses pratos
Do pão que se come
Esses copos
De vinho sem nome
Quantas vezes
Matei esse homem
Essas velas
É o fogo que come
Esses pratos
E o corpo do homem
Esses copos
Que a sede consome
Quantas vezes
Lembrei o seu nome
Essas velas
Queimando com fome
Esses pratos
Que a gula consome
Esses corpos
Que já não tem nome
Quantas vezes
Eu sou o que some
(publicada em “4ª Coletânea de Poemas ”, Ed. PerSe, 2021)
“Os Cabeçudos" - tirinhas cômicas Facebook.
https://m.facebook.com/story.
Muito bom, Cassiano. Inventividade, critérios e talento.
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