quinta-feira, 8 de abril de 2021

Leitores & Escritores: interações. Segundo encontro.

 O escritor convidado de Leitores & Escritores de 13/04/2021 é:

Cassiano Silveira. Nascido em Floripa/SC (1980) e atualmente morador da vizinha cidade de Palhoça, formou-se historiador e atuou na área da arqueologia por mais de 10 anos. Interessou-se por livros e ilustrações desde tenra idade, tendo lido inúmeros romances e escrito umas tantas poesias quando adolescente. As poesias foram destruídas em um arroubo passional dos tempos de recém-casado (Declara-se: –Amo-te cada dia mais, Mony!), mas a influência de Mário Quintana permaneceu.  A ironia de Luiz Fernando Veríssimo também deixou marcas em sua produção textual. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas “Os Cabeçudos”, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Ainda em 2017 nasceu o até agora único filho, que virou de cabeça para baixo – e para muito melhor – sua vida. Publicou artigos científicos e poemas em várias revistas e coletâneas (destacam-se o artigo Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia, Revista Tempos Acadêmicos, 2012; e os poemas Cama de Mármore, Revista Poité, 2006; Velório, PerSe, 2021 e Olho-mar, PerSe, 2021). 

Dedica-se hoje à produção de textos (entre poesias e contos), capas e ilustrações.


Capa Cassiano Silveira 
Capa Cassiano Silveira

Capa Cassiano Silveira


Ilustrou  as capas dos livros A Meus Queridos Netos, de Marlene Xavier Nobre (Postmix, 2017);  Coletânea de Poemas (PerSe, 2021), Coletânea Cartas não enviadas (Apparere, 2021).


Cama de Mármore 

 

Após comer os restos 

Deita-se com a tristeza 

E o peso da culpa 

 

O cheiro da morte 

Inferniza aqueles 

Que não sabem que já estão 

 

Mortos de medo 

 

(publicada em “Revista Poité ”, 2006) 



Olho-mar 

 

Começa aos poucos. Aquele alegre dia de sol vai cedendo lugar às nuvens escuras. Na praia as água convidativas, calmas e mornas, lentamente ficam turvas e mexidas. As marolas gracejosas e espumas inocentes se revoltam, se quebram num furor crescente. 

O vento salpica água salgada, que escorre pela expressão constrita do teu rosto de mulher. As ondas fortes batem compassadas, espancam as rochas caladas, derrubam e arrasam o quebra-mar. O som do trovão emudece a mente, o brilho de um raio revela o pranto furioso do mar. A longa noite de açoites passa em minutos eternos, o corpo de costão sofrendo em soluços profundos. 

Mas a tempestade sempre acaba. A manhã seguinte encontra os destroços na praia, peixes mortos pela areia, as baleeiras encalhadas, gosto e cheiro de ressaca. Encontra as redes rasgadas e as pessoas silenciosas, as pedras imutáveis e as coisas mudas. Encontra tudo no seu indevido lugar. A manhã também encontra o mais importante: um mar em calmaria. 

 

Esse mar dos teus olhos. 

 

(publicada em “Coletânea A Lágrima e o Tempo”, Ed. PerSe, 2021) 



Velório 

 

Essas velas 

Que o tempo consome 

Esses pratos 

Do pão que se come 

Esses copos 

De vinho sem nome 

Quantas vezes 

Matei esse homem 

 

Essas velas 

É o fogo que come 

Esses pratos 

E o corpo do homem 

Esses copos 

Que a sede consome 

Quantas vezes 

Lembrei o seu nome 

 

Essas velas 

Queimando com fome 

Esses pratos 

Que a gula consome 

Esses corpos 

Que já não tem nome 

Quantas vezes 

Eu sou o que some 

 

(publicada em “4ª Coletânea de Poemas ”, Ed. PerSe, 2021) 


No forno estão vários textos infantis, que escreve como se fossem para seu filho (e serão também).


“Os Cabeçudos" - tirinhas cômicas Facebook. 





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Um comentário:

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