Antonio Gil Neto é aposentado, participou como ilustrador e autor da coletânea e-book Paulo Freire vive (2021) dedica-se a viajar pelo mundo afora e ao imprescindível das leituras. Dentre elas, Adélia Prado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Manoel de Barros. E também a (re)escrever poemas e contos com renovada alegria! Nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista. Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde vive e construiu sua carreira profissional na área da Educação. Em 2021, publicou poema na revista Traços.
No primeiro livro que escreveu – “Brado Retumbante”, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Lembra-se bem do dia em que, então secretário da educação, o mestre maior visitara a escola onde era diretor. Teve a estupenda surpresa e o incontido júbilo quando anunciaram um senhor que aguardava ser atendido. Ele que merecia um tapete de flores e todas as portas e corações abertos a ele, permanecia sentadinho na sala de espera!
Atuou, paralelamente, em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua.
Poema - TEMPORAL - Revista Agora / n. 08 – 2021
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TEMPORAL
Pedacinhos de nuvens
deslizam
volúpias
fios dos cabelos
luzem
a embevecer olhos.
Lágrimas
em cristais
revoam no azul da
vida.
Tudo cachoeira
rimas
de luz.
Pequeninos clarões
gotículas
pirilampos
mergulham no vento
navegando
corações
se desprendem do
céu.
Alguma apoteose:
encantamento.
Círculos bailam.
Na penumbra
transparente
nuvens de chumbo
prateiam.
Eis a margem
meu acalanto.
O aguaceiro
entre
nós
universos paralelos
anagrama dos veios
d’água
num som débil: blues.
Solos.
Os respingos ciscam
desejos:
ciladas.
A um passo o
horizonte
no que é
no que poderia.
clarões se repetem
nenúfares
chapinham.
Na cortina da chuva
miúda
adversa sintonia.
A Terra a flutuar
assim mesmo:
aquática holografia.
Poemas Revista Caxangá
AH!
adversos
vários versos
dispersos
avessos reversos
diversos rios
esvaem-se
desvelam-se
desvarios
SOLILÓQUIO
Meu brinco brilha
minha mente.
Na página de
caderno acabado
escrevo
o que desabrocha
em mim
feito afeto.
Releio-me
algo novo,
inédito.
Guardo o
inexplorado
encoberto
sob feitos
em calma, lucidez.
Sei do outro que em
mim habita.
Espelhos
diálogos tangíveis
começar
(novo caderno).
Revejo memórias
alinhavadas
de viver impreciso,
suspeito.
Mas, funciono mais
em poema.
Urgente, abrupto:
um grito branco
emoldurando cotidianos.
Um sabiá cala-me,
inaugurando
melodias.
Acordo palavras
impuras
poesias.
(Por que guardo
perguntas quase sem respostas?)
REFÚGIO
Na humanidade
seus labirintos
inauguro sentimento
que de mim brota,
alcança o alvo:
lâmina certeira,
vertigens.
Sou domado pelo
afeto,
isso sei.
Em buscas
me desenho
no agora.
Há o que está por
vir.
Subirei montanhas
travessias tingidas
de silêncios.
Algumas palavras a
explodir
crisálidas:
nascerão poesia.
SENTINELA
O que nos leva
de
espera, esperanças
mínimas?
Evocações, a magia que
enleva,
ocupa lugar do corpo.
O que faz a
passagem, a estrada?
Sonâmbulos de
futuro, quase nada,
somos ardentes de sonho,
sem saber ao certo
o porto.
O zoom da memória:
a Terra aparentemente invencível.
(ainda)
verde, em parte,
em outra, azul.
Buracos, crateras,
feridas,
fogo
e fuligem a olhos nus.
Mãos que tecem
perigos, ásperos dias
e tempo a dançar, a
dar corda
ao mais humano.
Mas, os olhos das
crianças brilham
abrigos,
miúdas fantasias (pequeninos pecados).
Estopins,
corações
esfarelados.
Um mar de olhos,
estrangeiros, vigilantes, mascarados
Engolem tecnologias
vorazes.
As telas em
volúpia, alegrias mínimas,
Todas as frases:
solidão.
Águas e verde
(esquecida matéria).
Lágrimas umedecem
algum mísero pedaço de pão.
Tantos corações na
geografia sem pátria
(labirintos de dor).
Quanta morte:
desamor.
Nas entrelinhas,
agora,
fome de futuro:
um
biscoito da sorte.
Sou dos que vivem
de olho em esperança.
Perplexo com o
inimaginável,
me planto
ao chão de
todo dia.
Esmoreço,
como quem canta sem alegria:
um sonho a reviver do seu
avesso.
PASTICHE
Aromas
vermelhos no amarelo crepom.
Vertigem, um bolero
-
miragem.
A música dança
sem sapatos, pés
descalços, nus.
A lâmina prata, o
flamenco horizonte alcança
irresistível ponte:
gravata
e brinco (neon, meia-luz).
O bigode flameja,
corisca, lança uma rosa
se arrisca,
arrebata,
lança outra,
outras mais,
capa e espada,
faísca,
serenata de sinais.
(sua prosa)
Carmen,
sua marca, seu
espaço poema.
Às mãos, a
geometria do afeto,
o esquema:
seta rubra e laço,
jogo secreto.
Rubi e gardênia,
o dueto:
beijo e abraço.
Com (passos),
rodopios:
sorte e destino
o amor se
fez,
se faz bailarino,
uma vez,
outras mais.
Devaneios, enlevo e
paixão.
Depois,
um talvez,
sombras - o não.
Desatino, solidão:
o revés.
O golpe de fel.
Um brinco branco
que cai,
algum desdém,
desavim.
desalinho e desamor.
Nunca mais lua e
mel,
Colombina e
Arlequim,
nem Bolero de
Ravel:
abandono, tanta dor!
O olhar se esvai.
Pétalas, sangue e
cetim,
o que esse drama
abstrai:
“Aranjuez Mon amour”
Em fim.
MIRAGEM
O pássaro na gaiola, a água no
aquário prateando o seu canto.
A flecha de sol. Seu brilho.
O sinuoso avermelhado dos peixinhos.
A fresta.
O silêncio e o seu vento esverdeado.
Calmaria da tarde ausente,
encalorada.
A preguiça do acortinado
balançando-se em compasso de lentidão.
No sofá, o livro caído. A boca
minando outra água.
A inércia dos músculos exaustos. As
palavras desalinhando-se. O descanso dos olhos.
As histórias perambulando no cochilo.
O pássaro cristalino, sua inocência.
O gato, sua ronda.
A geometria do ímpeto.
Mas, o de repente.
A MENINA
DOS OLHOS DE JABUTICABA
Nem bem conhecera os dias e noites,
mas a menina se apercebera em diferenças miúdas, não de alma, que tudo se
complementava.
Engrandecia-se em compartilhar.
Levava em algumas tardes, após a
escola mais os afazeres e brincadeiras, nos braços, cuidadosamente esticados,
tanta roupa lavada de quarar ao sol e bem passadinha pela mãe até a casa da
senhora de poucos olhares.
Sua mãe, seus irmãos e ela, em pele
de cor da noite, viviam seus dias como costurando sonhos.
Dava para sentir com o acorde do
afeto os imensos olhos de jabuticaba da menina iluminando a vida e buscando
genuínos sentidos nos saberes do mundo.
Seus cabelos em arranjo de pequenas
tranças, salpicadas de adereços em cores de encantar, emolduravam seu olhar
reluzente sempre a postos de indagar o que se ia. Aprendera de convívio amoroso
a ler corações e intentos. E a desenhar seus desejos. Sonhara, pelo virar das
páginas ou divagando em seus passeios nas nuvens, em conhecer surpresas: as
muralhas da China, as pirâmides do Egito, a aurora boreal na Islândia, os
animais e os baobás de Kirindy do Madagascar.
Eu que bem sei do futuro posso dizer
que essa menina se aprimorará em conhecimentos e feitos. Irá além do outro lado
do mundo. Como aprendiz da vida em esperançar e luta superará horizontes.
Será exímia bailarina!
E num dia seu olhar de jabuticabas
maduras se surpreenderá com um poema em sua homenagem estampado na página de um
livro:
DANDARA
Olha risos
e
com a valsa dos dedos miúdos
tagarelas
e
as jabuticabas da retina
desenha em imaginários
em bailaricos de menina
em íris de vidro
estrelas
um colar de abelhas em caracol
que se assemelha
a uma centelha de luzinhas
amarelas
Referências
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgxwLtstFfGDNKvSzGsrqbSGtBBjx
https://www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/etapa/ finalmente-o-texto-de- memorias-literarias/index.html
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