sexta-feira, 7 de maio de 2021

Encontro com Antonio Gil Neto. Leitores & escritores: interações.

Antonio Gil Neto é aposentado, participou como ilustrador e autor da coletânea e-book Paulo Freire vive (2021) dedica-se a viajar pelo mundo afora e ao imprescindível das leituras. Dentre elas, Adélia Prado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Manoel de Barros. E também a (re)escrever poemas e contos com renovada alegria! Nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista.  Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde vive e construiu sua carreira profissional na área da Educação. Em 2021, publicou poema na revista Traços.








Autor de livros de literatura juvenil: “A flor da pele” e “Cartas Marcadas”, (Ed. Cortez/SP).




Organizador e autor de “A memória brinca: ciranda de histórias do ensino municipal paulistano”, (Imprensa Oficial/SP).


No primeiro livro que escreveu – “Brado Retumbante”, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Lembra-se bem do dia em que, então secretário da educação, o mestre maior visitara a escola onde era diretor. Teve a estupenda surpresa e o incontido júbilo quando anunciaram um senhor que aguardava ser atendido. Ele que merecia um tapete de flores e todas as portas e corações abertos a ele, permanecia sentadinho na sala de espera!




Atuou, paralelamente, em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua.








 


Poema - TEMPORAL - Revista Agora / n. 08 – 2021 

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 TEMPORAL

Pedacinhos de nuvens

deslizam

              volúpias 

fios dos cabelos

                          luzem

a embevecer olhos.

Lágrimas

               em cristais

revoam no azul da vida.

Tudo cachoeira

                          rimas

                                   de luz.

 

Pequeninos clarões

                                gotículas pirilampos

mergulham no vento

navegando

                                    corações

se desprendem do céu.

Alguma apoteose: encantamento.

 

Círculos bailam.

Na penumbra transparente

nuvens de chumbo

                             prateiam.

 

Eis a margem

      meu acalanto.

 

O aguaceiro

                   entre nós

             universos paralelos

anagrama dos veios d’água

                num som débil: blues.

Solos.

 

Os respingos ciscam desejos:

                                  ciladas.

 

A um passo o horizonte

no que é

              no que poderia.

clarões se repetem

nenúfares

                chapinham.

 

Na cortina da chuva miúda

adversa sintonia.

 

A Terra a flutuar assim mesmo:

                                                  aquática holografia.

  

Poemas Revista Caxangá  

AH!

adversos

vários versos

dispersos

avessos reversos

diversos rios

esvaem-se

desvelam-se

 

desvarios

 

  SOLILÓQUIO

  

Meu brinco brilha

                            minha mente.

 

Na página de caderno acabado

                                                 escrevo

o que desabrocha

                             em mim

feito afeto.

 

Releio-me

                 algo novo,

inédito.

 

Guardo o inexplorado

encoberto

                sob feitos

em calma, lucidez.

 

Sei do outro que em mim habita.

 

Espelhos

diálogos tangíveis

                             começar

                          (novo caderno).

 

Revejo memórias

alinhavadas

de viver impreciso,

                               suspeito.

 

Mas, funciono mais em poema.

Urgente, abrupto:

                            um grito branco

                                                      emoldurando cotidianos.

 

Um sabiá cala-me,

                             inaugurando melodias.

Acordo palavras

                           impuras poesias.

 

(Por que guardo perguntas quase sem respostas?)

 

 REFÚGIO

  

Na humanidade

                         seus labirintos

inauguro sentimento que de mim brota,

alcança o alvo:

                       lâmina certeira,

vertigens.

 

Sou domado pelo afeto,

isso sei.

Em buscas

                  me desenho

                                     no agora.

Há o que está por vir.

 

Subirei montanhas

travessias tingidas de silêncios.

 

Algumas palavras a explodir

crisálidas:

               nascerão poesia.

   

SENTINELA

  

O que nos leva

                        de espera, esperanças mínimas?                                                              

Evocações, a magia que enleva,

                                                   ocupa lugar do corpo.

 

O que faz a passagem, a estrada?

Sonâmbulos de futuro, quase nada,

                                                         somos ardentes de sonho,

sem saber ao certo

                               o porto.

 

O zoom da memória:

                                  a Terra aparentemente invencível.

                                 (ainda) 

verde, em parte,

            em outra, azul.

 

Buracos, crateras, feridas,

                                          fogo e fuligem a olhos nus.

Mãos que tecem perigos, ásperos dias

e tempo a dançar, a dar corda

ao mais humano.

Mas, os olhos das crianças brilham

              abrigos,

              miúdas fantasias (pequeninos pecados).

 

Estopins,

corações esfarelados.

 

Um mar de olhos, estrangeiros, vigilantes, mascarados

Engolem tecnologias vorazes.

As telas em volúpia, alegrias mínimas,

Todas as frases:

                           solidão.

 

Águas e verde (esquecida matéria).

 

Lágrimas umedecem algum mísero pedaço de pão.

Tantos corações na geografia sem pátria

                                                                 (labirintos de dor).

Quanta morte:

                      desamor.

 

Nas entrelinhas, agora,

fome de futuro:

                          um biscoito da sorte.

 

Sou dos que vivem de olho em esperança.

Perplexo com o inimaginável, 

me planto

ao chão de todo  dia.

 

Esmoreço,

                como quem canta sem alegria:

                                              um sonho a reviver do seu avesso.

 

PASTICHE

 

 Aromas vermelhos no amarelo crepom.

Vertigem, um bolero -

miragem.

 

A música dança

sem sapatos, pés descalços, nus.

A lâmina prata, o flamenco horizonte alcança

irresistível ponte:

                            gravata e brinco (neon, meia-luz).

 

O bigode flameja, corisca, lança uma rosa

se arrisca,

arrebata,

              lança outra,

                                 outras mais,

capa e espada,

                      faísca,

serenata de sinais.

(sua prosa)

 

Carmen,

sua marca, seu espaço poema.

Às mãos, a geometria do afeto,

o esquema:

                   seta rubra e laço,

                                              jogo secreto.

Rubi e gardênia,

o dueto:

              beijo e abraço.

 

Com (passos), rodopios:

                                       sorte e destino

o amor se fez, 

se faz bailarino,

uma vez,

outras mais.

 

Devaneios, enlevo e paixão.

Depois,

             um talvez,

                               sombras - o não.

Desatino, solidão:

                             o revés.

 

O golpe de fel.

Um brinco branco que cai,

algum desdém, desavim.

           desalinho e desamor.

Nunca mais lua e mel,

Colombina e Arlequim,

nem Bolero de Ravel:

                                   abandono, tanta dor!

 

O olhar se esvai.

Pétalas, sangue e cetim,

o que esse drama abstrai:

                                       “Aranjuez Mon amour”

Em fim. 

 

MIRAGEM 

O pássaro na gaiola, a água no aquário prateando o seu canto.

A flecha de sol. Seu brilho.

O sinuoso avermelhado dos peixinhos.

A fresta.

O silêncio e o seu vento esverdeado.

Calmaria da tarde ausente, encalorada.

A preguiça do acortinado balançando-se em compasso de lentidão.

No sofá, o livro caído. A boca minando outra água.

A inércia dos músculos exaustos. As palavras desalinhando-se. O descanso dos olhos.

As histórias perambulando no cochilo.

O pássaro cristalino, sua inocência.

O gato, sua ronda.

A geometria do ímpeto.

Mas, o de repente.

 

A MENINA DOS OLHOS DE JABUTICABA

 

Nem bem conhecera os dias e noites, mas a menina se apercebera em diferenças miúdas, não de alma, que tudo se complementava.

Engrandecia-se em compartilhar.

Levava em algumas tardes, após a escola mais os afazeres e brincadeiras, nos braços, cuidadosamente esticados, tanta roupa lavada de quarar ao sol e bem passadinha pela mãe até a casa da senhora de poucos olhares.

Sua mãe, seus irmãos e ela, em pele de cor da noite, viviam seus dias como costurando sonhos.

Dava para sentir com o acorde do afeto os imensos olhos de jabuticaba da menina iluminando a vida e buscando genuínos sentidos nos saberes do mundo.

Seus cabelos em arranjo de pequenas tranças, salpicadas de adereços em cores de encantar, emolduravam seu olhar reluzente sempre a postos de indagar o que se ia. Aprendera de convívio amoroso a ler corações e intentos. E a desenhar seus desejos. Sonhara, pelo virar das páginas ou divagando em seus passeios nas nuvens, em conhecer surpresas: as muralhas da China, as pirâmides do Egito, a aurora boreal na Islândia, os animais e os baobás de Kirindy do Madagascar.

Eu que bem sei do futuro posso dizer que essa menina se aprimorará em conhecimentos e feitos. Irá além do outro lado do mundo. Como aprendiz da vida em esperançar e luta superará horizontes.

Será exímia bailarina!

E num dia seu olhar de jabuticabas maduras se surpreenderá com um poema em sua homenagem estampado na página de um livro:

 

DANDARA

Olha risos

e

com a valsa dos dedos miúdos

tagarelas

e

as jabuticabas da retina

desenha em imaginários

em bailaricos de menina

em íris de vidro

estrelas

um colar de abelhas em caracol

que se assemelha

a uma centelha de luzinhas

amarelas

Referências

https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgxwLtstFfGDNKvSzGsrqbSGtBBjx

https://www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/etapa/finalmente-o-texto-de-memorias-literarias/index.html

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