Ser escritora de ficção, no Brasil é algo situado longe de único ganha pão. Até os anos 1980, os livros paradidáticos foram uma renda extra do orçamento de alguns professores paulistanos que conheci lá e então, no exercício dos papéis de professora de Língua Portuguesa e coordenadora pedagógica.
De 2011 a 2024, consegui publicar dez livros de ficção e permanecer no anonimato.
Meu papel de escritora de ficção tem seu lado B que é o de participar de encontros de leitura de textos de autores presentes. Esse lado B, caso haja interesse, organiza coletâneas com outros autores a partir de um tema. O processo de criação de cada um é beneficiado por encontros via “lives” nos quais lemos e comentamos nossos textos. As publicações são “bancadas” pelos próprios membros que se comprometem a comprar pelo menos uma cota de exemplares. Os trabalhos de capa e de diagramação algumas vezes são feitos por participantes do próprio grupo, outros são remunerados. Os custos de ficha catalográfica, ISBN e impressão são facilmente contratados numa gráfica.
Sei que meu lado B é anarquista. Mas
valorizo o trabalho de editoras e avalio as dificuldades que enfrentam para se
manter num país em que a maioria vota em candidatos que propagam o desprezo
pela pesquisa, pelos professores, pelas instituições como a escola pública
laica, civil e de qualidade e a universidade pública com cotas para os povos
originários e prova do ENEM.
Repito que “sei que meu lado B é anarquista”. E que busca fundamentos teóricos no Psicodrama. Em 2004, defendi a dissertação de Mestrado – Psicodrama e psicodramatistas no Brasil: 1963-2003 – que tem por mote a análise das publicações brasileiras sobre Psicodrama. Em sua maioria, tais livros foram lidos pelos alunos de seus autores.
Sei que meu lado B é puro idealismo utópico que se consolida na prática de ensinar/aprender sem custos monetários institucionais à revelia da idade de quem aprende-ensina, apesar do etarismo. E continuo cantando "apesar de você, amanhã há de ser outro dia".
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