Dentre os
objetivos do encontro de Leitores & Escritores: interações, promovido
pela Biblioteca do CIC, aponto: a prática da leitura oral, a reflexão
crítica sobre o texto, o conhecimento do gênero textual conto.
As
atividades metodológicas disponíveis: - interações escritores e
leitores, leitura oral, pesquisa com uso de categorias de análise.
Para tal
intento, foi organizada uma mini coletânea para reflexões sobre o gênero
literário conto que reúne os textos: Muros que constroem muros, de Karoline
Paula Coletti Gomes; A Antífona, de Sócrates, de Edna
Domenica Merola; O beijo, de autoria de Cassiano Silveira. distraídos
pensamentos, de autoria de Rosilene Souza.
Tal
exercício de pesquisa parte da indagação: "Como as categorias foco
narrativo e desfecho se relacionam na análise dos contos dessa mini
coletânea?"
Conto,
foco narrativo e desfecho
Edna Domenica Merola
O conto é
um texto curto em que um narrador conta uma história desenvolvida em torno de
um enredo - uma situação que dá origem aos
acontecimentos de uma narrativa.
O foco
narrativo é a
escolha do lugar narrativo de quem se predispõe a contar. Narrador
em 1ª pessoa: também conhecido como narrador personagem, é aquele que
participa do enredo que narra. Os verbos utilizados são flexionados na 1ª
pessoa do discurso (eu, nós).
Já os
verbos flexionados na 3ª pessoa do discurso (ele,ela,eles,elas) acusam um Narrador
observador ou um narrador onisciente.
O
narrador observador não participa da história, conta apenas o que vê,
desconhecendo o futuro ou os pensamentos das personagens, é irrelevante
ao conflito.
Narrador
onisciente: também não participa da história, mas conhece o
passado, o futuro e os pensamentos das personagens.
O gênero
literário conto é estruturado como uma narrativa curta
que envolve apenas um conflito cuja solução está no
desfecho.
Ao
estudarmos os efeitos do foco narrativo sobre a construção do enredo e de seu
consequente desfecho, estamos lidando com a questão de como o autor convoca o
leitor para adentrar o universo aventado pelo texto e como se despede, deixando
o leitor com suas reflexões sobre o universo compartilhado.
ADENDO I
- MINI COLETÂNEA
1- Muros que constroem muros
Karoline
Paula Coletti Gomes.
Como boa
questionadora da gravidade estava eu, numa tarde qualquer, sentada no
portãozinho verde da minha casa, quando me deparei com uma cena comum, mas à
qual pouco dava atenção: duas pombas pousavam num encontro sobre o muro cuja
principal função é separar casas e vizinhos... Já que as notícias diárias nos
impulsionam a fazer isso.
–
Ah que engraçado! – pensei. As pombas fizeram essa imagem, utilizando o muro
como causa de união ao invés de separação.
– Bah, como queria eu, destruir os muros que
constroem muros nas nossas comunidades.
Comentários
de Edna
sobre o texto de Karoline Paula Coletti Gomes
O foco
narrativo é
em primeira pessoa. A personagem narradora observa o encontro entre um casal de
pombos e o muro onde ocorre. A narradora parece habitar mais o encontro dos
pombos do que o muro que " protege" as propriedades. Portanto, ao
falar sobre o casal de pombos e o muro, revela suas percepções e valores que
tendem a derrubar muros metafóricos.
O
desfecho transcende
a revelação de valores apresentando um projeto de ação inclusiva:
"– Bah, como queria eu, destruir os muros que
constroem muros nas nossas comunidades. "
2- A
Antífona, de Sócrates
Edna Domenica Merola
Esse
discurso das redes sociais durante a pandemia precisa urgente de vacina! Está
infectado!
Veja bem:
fiz um teste! Perguntei se alguém já tinha lido a Antífona, de Sócrates, porque
queria mensurar quão xingada eu seria. E também a presença de robôs (que são
cruéis, mas com nível superior nas funções concentração e informação).
Mas me
decepcionei muito! Os robôs a serviço de um dos dois (céu e inferno do ângulo
do usuário) não estavam concentrados em detectar ironias.
Mas
coloquei-me uma máxima de sobrevivência: “se não rende pra pesquisa tem que
render pro riso”.
Alguém
respondeu:
–
Antífona é aquele diálogo cantado que tem na missa!
Daí
postei:
– Quando
a missa era em latim o celebrante dizia “Vacinares Covides!”. E os fiéis
respondiam: “Amém!”. Tinha também: “conhecetis a ti mesmus/ amém”.
– As
missas em latim eram lindas! – disse Alguém Um. Lembro bem dessa “conhece-te a
ti mesmo/ amém”. Mas não lembro do “Vacinares”. Vou perguntar pro meu primo que
era coroinha. Ele é muito bom nisso ...
– O
Sócrates é o jogador de futebol. Quem não conhece? – disse Alguém Dois.
– Orra meu! Isso de “conhece-te a ti mesmo” parece coisa de boiola... Daqueles que ficam se apalpando... É pecado de gente que não lê Bíblia! – disse Alguém Três.
– Pronto! Postei o link pra vocês lerem sobre o Sócrates, filósofo de tal importância que seu pensamento é o marco divisório entre os que vieram antes dele – os pré socráticos – e os que vieram depois – os socráticos, a exemplo de Platão. – disse Alguém Quatro.
– Num falei?
Sempre quem faz bandalheira acaba ficando famoso! Aposto que ele vai acabar
sendo chamado pra ir no Big Brother Brasil! – retornou Alguém Três.
Percebendo
que o picadeiro estava quente e que era hora de iniciar a função, retornei à
inicial:
– E então
moçada, alguém já leu a Antífona, de Sócrates?
– Li sim!
Inclusive tem um filme na plataforma televisiva A Tal que está passando o
documentário O Jovem Sócrates – disse Alguém Três.
– Já é
quase meia noite, vou desligar para o necessário repouso. Mas antes quero lhes
dizer que caíram numa fake. Não existe nenhuma Antífona escrita por Sócrates.
Existe a Antígona, de Sófocles. Se tivessem lido, compreenderiam o lado trágico
de perder um ente querido e não poder proporcionar-lhe as devidas homenagens na
sua despedida. O culto à memória de alguém que amo é necessário para minha
sobrevivência. Vocês não conseguem avaliar isso!?
–
Adeus Polinice, meu amado companheiro: marido, pai e irmão.
Comentários
de Cassiano Silveira sobre o texto de Edna
O foco
narrativo é em primeira pessoa. Ao tentar verificar a presença de robôs na
web, bem como a reação de seus pares, a narradora não obtém os resultados
esperados. Todavia, continua com a ação, para avaliar o comportamento das
pessoas reais com as quais está interagindo. Utilizando-se de ironia, pergunta
aos colegas quem leu a “Antífona”, de Sócrates (parodiando assim a “Antígona”,
tragédia grega de autoria de Sófocles). As variadas respostas obtidas são
baseadas em “achismos”, preconceitos e conhecimentos distorcidos. Nenhum dos
demais personagens nota a ironia e a paródia contida na pergunta. A verdadeira
peça teatral só é referida no desfecho da narrativa.
O uso da
peça “Antígona” vem recheado de referências ao período atual, como a abreviação
dos ritos fúnebres causada pela corrente pandemia de COVID-19. Outros subtemas
do conto por meio da referência à tragédia escrita por Sófocles: a autocracia
representada pelo antagonista; o enfrentamento ao Estado e as lutas
femininas/feministas da protagonista (Antígona).
O texto
resvala na questão de que a perda de um ente querido deve ser vivida
efetivamente (é parte de um processo de luto saudável) e que é obrigação da
sociedade se esforçar para que esse luto possa ser vivenciado. Isso não
significa que seja defendido um rito de despedida irresponsável em tempos de
crise sanitária, mas sim que haja o comprometimento geral em minimizar as
mortes causadas pela atual pandemia – “Vacinares Covides!” – e afastar os
negacionismos, preconceitos e discriminações – “Conhecetis a ti mesmus”.
O
desfecho consiste
dos dois últimos parágrafos. O penúltimo é um solilóquio da
personagem ainda na "presença" dos interlocutores da rede social
midiática: – “Já é quase meia noite, vou desligar ” .
Já a última frase do texto – “Adeus Polinice, meu amado companheiro: marido, pai e irmão." é outro solilóquio da narradora, mas que atinge um patamar diferente do anterior, pois tem potência para ecoar sentimentos do leitor que vivencia esses tempos de pandemia.
3- O beijo
Cassiano
Silveira. 15/07/2021
Sempre foram tão próximos os dois. Gerados no mesmo ventre, as mãos experientes da parteira enxergavam o útero materno por dentro. Estavam abraçados, ela dizia, rostinhos colados um ao outro. Seriam irmãos muito unidos.
Os bebês
nasceram, dois meninos, unidos pelos lábios, a metade direita da boca de um
unida a metade esquerda da boca do outro. Os nomes já estavam escolhidos havia
tempo: Castor e Pólux, personagens centrais de uma lenda que o pai ouvira
muitos anos antes. Mas apesar da condição incomum dos gêmeos, a verdadeira
surpresa foi encontrar uma terceira criança. Outra menina, tão discretamente
posicionada, tão pequena e quietinha que não fora percebida ao longo de nove
meses. Os pais, acuados pelo inesperado, envolvidos pelos gêmeos siameses, pela
necessidade de ampliar o enxoval, pensando que se um era bom e dois demais,
como criar três? Não puderam dedicar tanto esforço mental à escolha do nome da
terceira criança. Chamaram-na Antônia.
Os pequenos foram assim crescendo. A cirurgia para separar Castor e Pólux seria viável, mesmo com os recursos pouco avançados daquele primeiro quartel do século XX. Mas os pais achavam tão lindo como eles se acarinhavam... Aquele beijinho interminável, um beijo inocente dos inocentes querubins. Nas poucas fotos de infância, Antônia sempre observava os dois, uma lua orbitando os bebês plenos. Algumas poucas apresentações nos circos itinerantes, que na época ainda tinham espaço para as “aberrações”, renderam uns trocados para a família, gente simples e humilde. O dinheiro, porém, não compensava o desconforto da mãe em expor seus pequenos anjos. Não podia admitir seus filhos serem chamados de “aberração”. Findaram as apresentações, findaram os trocados e manteve-se a vida de escassez. A rocinha nos fundos da casa ajudava um pouco a sustentar. Assim, os bebês viraram crianças.
Os
xifópagos viviam felizes um com o outro. Gostavam das mesmas comidas, gostavam
da mesma radionovela. Brincavam as mesmas brincadeiras. Pareciam uma só pessoa:
Gêmeos. Quando puderam expressar opinião, afirmaram não querer ser separados.
Resistiram à discriminação das outras crianças. Bastavam-se a si próprios. E
Antônia orbitava.
Mas a
vida sempre esteve longe de ser fácil. Banheiros públicos eram vetados a
Gêmeos, numa moral inflexível. Na rua, era comum ouvir expressões como “Que
falta de vergonha!”. Não, não estavam se beijando, mas como explicar isso a um
passante que não queria ouvir e já tinha suas verdades prontas e consumadas? E
no fim, ao chegar à puberdade e sem ter outras bocas para beijar, quem sabe o
que teria acontecido? Adultos, nunca conseguiram um emprego duradouro. Os pais
partiram e a casa ficou aos filhos, o terreno mutilado, vendido em pequenas
frações, e o dinheiro consumido, a cidade crescendo ao redor. Vendiam quitutes
– que poucos se aproximavam para comprar – e aceitavam de bom grado a doações
feitas pelas “almas caridosas”. Antônia contribuía lavando roupas de terceiros
na carioca. E orbitava, a fiel escudeira.
O tempo
passou. Vida simples, tostões curtos, quase nulos. Desde sempre os olhares
desconfiados dos outros, piorando à medida que a idade chegava e lhes mudava as
feições, tirava o viço da juventude. Os velhinhos sempre são excluídos. Ao
final, tornaram-se eremitas numa casa velha. A velhinha Antônia há setenta anos
na infindável translação em torno da constelação de Gêmeos.
Naquele
dia, aniversário dos três, um bolo de cenoura comprado com carinho por Antônia
no mercadinho da esquina. Um bule cheio de café de segunda, amargo e ralo. Três
pratos, três canecas, três garfos. Uma faca grande demais para cortar o bolo,
portentosamente colocado ao centro da mesa, ainda embrulhado em papel pardo. Os
irmãos sentados em silêncio. Antônia vai buscar um prato para pôr o bolo. É um
dia especial, quer usar aquele prato que ficou de herança dos avós, aquele
grande, de porcelana, com o desenho em borrão azul chinoiserie.
Alcança a louça na parte alta da cristaleira, as mãos trêmulas da idade. O
prato se despedaça ao atingir o chão com estardalhaço. Os gritos de Gêmeos
cortam como cacos afiados.
Antônia
permaneceu calada. Orbitou até a geladeira e pegou um tubo de cola instantânea.
Juntou os cacos da centenária porcelana azul, abriu a tampa da cola, pegou o
primeiro fragmento. Ouvia ainda os gritos Dele. Apertou o tubo de cola, que
escorreu lenta e grossa pelo bico. Após um segundo de reflexão, besuntou os
próprios lábios com o produto.
Foram
encontrados exatamente trinta dias depois. Sobre a mesa, um bule cheio de café
amargo, três pratos, três canecas, três garfos. Uma faca grande demais. Um bolo
mofado ao centro da mesa, ainda embrulhado em papel pardo. Os três irmãos
mortos por inanição, caídos no chão da cozinha, as bocas unidas num incestuoso
beijo triplo, carnal. Um beijo guloso, daqueles que devora.
Comentários de
Edna sobre o texto de Cassiano Silveira
O foco
narrativo desse lindo conto é em terceira pessoa. O narrador é
onisciente, conforme pode-se verificar nos trechos nos quais consta o verbo
orbitar em relação ao movimento psicológico da personagem Antônia:
"Pareciam
uma só pessoa: Gêmeos. Quando puderam expressar opinião, afirmaram não querer
ser separados. Resistiram à discriminação das outras crianças. Bastavam-se a si
próprios. E Antônia orbitava."
"Antônia
contribuía lavando roupas de terceiros na carioca. E orbitava, a fiel
escudeira."
"Antônia
permaneceu calada. Orbitou até a geladeira e pegou um tubo de cola
instantânea."
O termo "orbitar" não é gratuito, já que Castor e Pólux remetem à página da Mitologia Grega que refere à valentia dos heróis transformados por Zeus na Constelação de Gêmeos, a pedido de seu filho imortal que não quis se separar do irmão (mortal). A referência textual segue: "Os nomes já estavam escolhidos havia tempo: Castor e Pólux, personagens centrais de uma lenda que o pai ouvira muitos anos antes. Mas apesar da condição incomum dos gêmeos, a verdadeira surpresa foi encontrar uma terceira criança.[...] Chamaram-na Antônia."
O
desfecho surpreende
o leitor ingênuo: tira a personagem Antônia da órbita dos gêmeos e a torna
protagonista do trágico desfecho.
O beijo, escrito por Cassiano Silveira me fez viajar por vários tempos/referências de ontem e de hoje. De cara lembrei das personagens bíblicas Esaú e Jacó, como também do livro Esaú e Jacó, os tão famosos gêmeos de Machado de Assis, mas esta “semelhança” termina aí. O autor nos surpreende com a personalidade pacífica de Castor e Pólux (homenagem a uma lenda apreciada pelo pai), e de uma terceira personagem nascida do mesmo ventre e no mesmo dia que os irmãos. Uma criança que, ao contrário dos meninos, passou a vida à margem ou melhor orbitando, como Silveira destaca no decorrer do texto. Uma criança inesperada, silenciosa/silenciada, que a princípio não tinha um nome que a identificasse, e que, devido às condições precárias da existência, se anulava e era anulada pelos progenitores. Ela carregava nos ombros aquela máxima o tão aclamado fardo feminino. Afinal de contas, a culpa sempre é da mulher. A tão famigerada culpa pelos problemas do mundo, por ter tentado o indefeso e inocente Adão a comer o fruto proibido. Como cantou Chico Buarque nas letras de Geni e Mulheres de Atenas, a primeira era boa pra apanhar, feita pra cuspir, maldita Geni. A segunda expressa a categoria de mulher curvada, encolhida, submissa ... Hoje. mais do que nunca, objeto e sinônimo de estorvo, de ser indesejável que deve ser exterminado. Que o digam os altos índices de feminicídio!
Em contrapartida, os irmãos vieram ao mundo com os nomes escolhidos, dois meninos desejados e saudáveis, mas que nasceram com uma particularidade que os definiriam, como também os uniriam por toda a existência. Uma existência de cumplicidade por parte dos irmãos e por desrespeito, intolerância, preconceito por parte dos desconhecidos. Uma falsa moralidade que permeia a sociedade desde tempos remotos e tão presente nos dias vigentes. Uma vez que, essa mesma sociedade não tolera a diferença e se agarra em suas verdades perfeitas para atacar, diminuir, ridicularizar aquilo que incomoda. Ironicamente, quando “aceitam” as diferenças, as aceitam com o intuito de explorar a suas fragilidades, como era muito comum nos séculos passados (em circos, teatros de ruas, etc.) e que perdura até os dias atuais (em programadas de televisão).
Assim, o narrador onisciente vai nos sibilando a trajetória desses três irmãos que morreram unidos pelo beijo. Beijo esse que selou uma existência. Assim, leio a possibilidade de que a personagem Antônia (a inesperada, a silenciosa, a retardatária dos trigêmeos) em seus pensamentos mais íntimos (aqueles que não temos coragem de dividir com ninguém) desejava ter nascido enlaçada pelo beijo para ocupar um espaço no pensamento dos pais? Para ser notada pela sociedade nem que fosse como objeto de desprezo e escárnio? Será que, assim, ela teria coragem e forças de se olhar? Será que sua existência bizarra a deslocaria da sombra? Estas e outras indagações permeiam minha leitura. O texto deixa esse enigma a decifrar.
4-
distraídos pensamentos
Rosilene Souza
Ella
entrou, deparou com a sala vazia e um silêncio sepulcral. A luz difusa
iluminava o ambiente, deixando-o aconchegante. Quando estava retirando a
máscara, Ella começou a ouvir barulhos. Estes eram abafados e espaçados. Sem
saber precisar de onde vinham, caminhou em direção a copa. Não notou nada de
diferente naquele espaço.
Por um
momento pensou que aqueles ruídos imperceptíveis deveriam ser resultado de uma
noite mal dormida. Pois, sempre que recebia a visita da insônia, no dia
seguinte não era ninguém e hoje não tinha sido diferente. Para se ter uma
ideia, Ella esqueceu o que a tinha feito retornar de forma abrupta para casa.
Estava indo em algum lugar, e do nada deu meia volta e quando notou estava na
sala com a máscara na mão. E o que era pior não lembrava o motivo que a fizera
regressar.
O
silêncio foi quebrado novamente, tirando-a do seu estado meditativo. Dessa vez,
Ella aguçou bem os ouvidos e percebeu que o barulho vinha do andar de cima. Na
maior tranquilidade mirou a escada, mediu os degraus, respirou fundo e resolveu
encarar aquele inconveniente. Conversava consigo mesma, na tentativa de se
convencer que tudo aquilo era fruto de sua imaginação: não há de ser
nada.
– Hoje meus
pensamentos estão bagunceiros e pelo visto combinaram de me pregar uma peça.
Cautelosamente,
Ella subia os degraus, sua silhueta esguia projetava-se na parede, criando uma
impressão fantasmagórica e tremeluzente. Seus passos seguiam firmes e resolutos
ao encontro daquele enigma. Queria muito desvendar aquele mistério que
descortinava a sua frente. Tinha a perfeita noção que ao alcançar o alto da
escada nada mais seria como antes.
Adentrando
o corredor, Ella recorda o motivo que a levou de volta ao lar. De súbito,
suspira aliviada. Este suspiro lhe soa como um alento, pois ela gira o
calcanhar e desce as escadas sem olhar para trás. Lembra de pegar as chaves que
distraidamente tinha deixado em cima da mesa e sai discretamente batendo a
porta.
Comentários de
Edna sobre o texto de Rosilene Souza
O nome da
personagem: Ella – lembra o pronome pessoal feminino de terceira pessoa
(ela). A narrativa se dá em terceira pessoa, o narrador é onisciente (conhece
as emoções, sentimentos, pensamentos da personagem), conforme lemos em:
"Conversava
consigo mesma, na tentativa de se convencer que tudo aquilo era fruto de sua
imaginação: não há de ser nada."
"– Hoje meus
pensamentos estão bagunceiros e pelo visto combinaram de me pregar uma peça."
Tendo por
título (iniciado por letra minúscula) : "distraídos
pensamentos", o desfecho do conto é o momento em que
"Ella recorda o motivo que a levou de volta ao lar.
[...]. Lembra de pegar as chaves que distraidamente
tinha deixado em cima da mesa e sai discretamente batendo a porta."
Comentários de Karoline sobre o texto de Rosilene Souza
O conto distraídos pensamentos, escrito por Rosilene Souza, é construído em torno do retrato psicológico da protagonista Ella: seus pensamentos confusos, vagos e desorganizados, suas tentativas de encontrar um foco.
A personagem Ella se vê tentando descobrir a causa de um barulho inconveniente que a faz lembrar que não sabe o porquê de estar, naquele momento, na sala da sua casa, com uma máscara na mão. Até que se lembra do que a fez voltar à casa, abandonando a inquietação. A narrativa cria uma atmosfera de mistério, desperta curiosidade sobre a origem do barulho, e do motivo pelo qual Ella suspira aliviada ao se lembrar do que a fez regressar à casa. O conto apresenta a vida diária de muitas pessoas em meio à pandemia: a insônia, o trabalho pesado que cansa o corpo. Trata-se de um cotidiano em que não se tem um tempo para parar e pensar.
A leitura me fez refletir sobre a importância de cuidarmos do nosso maior instrumento de consciência: a mente.
Comentários de Cassiano sobre o texto de Rosilene Souza
No
conto pensamentos distraídos, a autora demonstra como um problema é
substituído por outro sem que seja solucionado, representando uma espécie de
círculo vicioso em que se deixam assuntos mal resolvidos para trás.
REFERÊNCIAS:
BRASIL
ESCOLA https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-conto.htm
__________________https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-tragedia-na-peca-teatral-antigona-sofocles.htm
GOMES, Karoline
Paula Coletti. Muros que constroem muros. Originais da
autora.
MEROLA,
Edna Domenica. A Antífona de Sócrates. Revista Traços, número 3.
MITOLOGIA GREGA https://mitologiagrega.net.br/castor-e-polux-exemplos-de-fraternidade/
SILVEIRA, Cassiano. O
beijo. Originais do autor.
SOUZA, Rosilene. distraídos
pensamentos. Originais da autora.
TODA MATÉRIA https://www.todamateria.com.br/conto/
ADENDO II: COMENTÁRIOS GERAIS
Comentários de Maria Bernadete Viana da Silva sobre
a mini coletânea
Os contos de Edna e Cassiano Silveira destinam-se
para um público literário, já que trazem muito simbolismo.
Fiquei surpresa com a escrita da Karoline P. C.
Gomes: jovem adolescente ainda, mas conseguiu passar poesia, realidade, crítica
e um desejo de liberdade. Hoje o que mais se constrói são muros visíveis e
invisíveis e Karoline almeja que a sociedade encontre meios de superação.
No conto distraídos pensamentos de Rosilene Souza, considerei muito bem escrita a situação da
expectativa dos barulhos à toa. Leio que, atualmente, cria-se muito
barulho por nada.
Comentário de Cassiano Santos sobre a escrita
Mas o legal de escrever é isso mesmo: criamos os textos para o mundo, eles caminham por conta própria e encontram um caminho diferente em cada leitor.
O mito de Pólux e Castor – Constelação de Gêmeos
ResponderExcluirLeda tinha sido fecundada por Tíndaro, príncipe de Esparta.
Zeus encatado pela beleza da moça, disfarçando sua paixão na forma de um cisne, se aproxima da futura rainha quando esta vai se banhar em um lago e também a fecunda. Dessa dupla união nascem de dois ovos Pólux e Helena, filhos imortais do deus, e Castor e Clitemnestra, filhos mortais do rei.
https://mitologiagrega.net.br/castor-e-polux-exemplos-de-fraternidade/
Antígona é a continuação dramática de Édipo Rei de Sófocles que, ao partir para o exílio deixa quatro filhos: Etéocles, Polinice, Antígona e Ismênia. Etéocles e Polinice , na disputa pelo poder, chegaram a um acordo de revezamento no comando a cada ano. No entanto, Etéocles, que foi o primeiro a governar, ao fim do mandato, não quis ceder o lugar do poder ao irmão Polinice, que revoltado foi para a cidade vizinha e rival da grande Tebas. Ali, reunindo um exército aliado, Polinice enfrentou o irmão visando ao trono de Tebas. O conflito acabou com os dois se matando e, então, assumiu o poder o tio Creonte, irmão de Jocasta, esposa de Édipo que também morreu na primeira peça. Usando de seu poder, Creonte estabeleceu que o corpo de Polinice não receberia as honrarias tradicionais dos funerais, pois este tinha lutado contra a pátria. Já ao irmão, Etéocles, o rei determinou que fossem dadas tais honrarias fúnebres. Além disso, determinou pena de morte a quem desobedecesse as suas ordens. Antígona, entendeu que esse procedimento do Tio Creonte (rei) não respeitava que os rituais de passagem eram importantes para que a alma não ficasse vagando eternamente sem destino. Com essa preocupação, Antígona preferiu correr o risco da morte para enterrar seu irmão despojado.
ResponderExcluirhttps://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-tragedia-na-peca-teatral-antigona-sofocles.htm