"Quando o apito da fábrica de tecidos vem ferir os meus ouvidos eu me lembro de você (Três Apitos. Noel Rosa).
Cinco horas da tarde! O som da sirene da Fábrica de Tecidos e Bordados Lapa permeia todo o bairro anunciando o fim do expediente. Três crianças, eu e meus dois irmãos, esperam ansiosamente por um assovio, que não tarda, e correm ao encontro do pai, que naquela terça feira, vem trazendo os doces da venda do ¨Gino¨, repletos de afeto e carinho.
Assim
como o apito do trem da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, trazia nossa querida
tia Iluminata e também nos levava para brincarmos com nossos primos. Ah! que
delícia.
Me
vem a memória também a delícia que era assistir ¨televisão¨, sentados no chão
do banheiro olhando a máquina de lavar Westinghouse, no compasso da roupa
girando, tendo os bolinhos de chuva da mamãe para animar.
O
som da bola, a algazarra da meninada brincando na rua de terra, de futebol, o
estalo da corda no solo: temos que ser rápidos para não queimar, nos aquece o
coração; doces recordações.
Ainda
ouço o ranger das rodas da bicicleta, ganha no Natal pelo meu irmão caçula,
subindo e descendo as ruas da Lapa de Baixo num frenesi de alegria desmedida.
Poucas vezes vi tamanha euforia.
Quando
a bola, a corda e a bicicleta foram deixadas de lado: "Dio come te
amo", “Come te non ce nessuno","All my loving" e "Don´t
Let Me Down" povoaram o imaginário romântico da menina e de seus amigos,
que se tornaram adolescentes. As matinês do Cine Tropical em muito contribuíram
para isso.
Tempo
bom, interrompido pelas patas dos cavalos no asfalto, reprimindo os anseios de
democracia e liberdade dos universitários dos anos 70. "Chora a pátria
amada a mãe gentil, choram Marias e Clarices no solo do Brasil. Mas sei que uma
dor assim pungente, não há de ser inutilmente, a esperança..." (O bêbado e
a equilibrista. Aldir Blanc e João Bosco).
Concomitante
o ruído do motor do fusca chegando, debaixo da minha janela, fazia meu coração
acelerar de puro encantamento. O mesmo som o levou... Mas, o rugir do mar
trouxe meu companheiro eterno e com ele pude ouvir e sentir a plenitude de dois
seres que me foram confiados e que amarei eternamente.
O
farfalhar das páginas de um livro me leva para realidades que ampliam o meu ser
e me dão a certeza de que viver é experimentar cada momento, porque ele é único.
Os
sons do sorriso, do pranto, da alegria e do amor são sintetizados na oração que
acalma o coração e eleva a alma.
Parabéns, Odila pela linda síntese de vida num texto denso, curto e leve a um tempo. Os sons que você enunciou têm eco nas minhas memórias de vida.
ResponderExcluirQue lindo!
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
De uma maneira leve e didática me fez voltar a um passado muito feliz.
Viajei nas palavras...