quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Concentração e o Elemento Ar em dinâmica de imaginação dirigida. Edna Domenica Merola

Durante a pandemia, em continuidade às tarefas pertinentes ao Curso de Textos Curtos da Biblioteca do CIC do qual sou professora voluntária, coordenei uma ação com convidados da aluna Júlia Copetti e outros da professora Edna que coordenou essa tarefa com um subgrupo de participantes do curso referido. Foi assim que uma galera dos 14 aos 76 anos, reuniu-se via mídia digital. A hostess da reunião foi a bibliotecária Esni Soares. 

No encontro, Edna aplicou a dinâmica Jogo de Imaginação dirigida e simbologia do elemento ar (MEROLA, 2014, pp 67,68) . 

As avaliações foram postadas pelo celular, em mensagens trocadas em grupo. A professora Edna disponibilizou um questionário (vide ADENDO I) para que cada um pudesse avaliar sua capacidade de concentração e de imaginação perante um exercício dado.

 Jogos de Imaginação Dirigida para a Simbologia dos Elementos 

 A simbologia dos quatro elementos é veiculada hoje por meio do horóscopo do zodíaco. Seis séculos antes de Cristo, principiaram os estudos sobre os elementos. Na história da filosofia, esse período hoje é denominado de pré-socrático. Portanto, Terra, Água, Fogo e Ar são considerações antigas e ainda presentes no imaginário ocidental. O estudo da simbologia dos quatro elementos por Gastón Bachelard alicerça inúmeros trabalhos de pesquisa acadêmica sobre Literatura, atualmente. (vide ADENDO II). 

Constata-se, portanto, que o uso da simbologia dos elementos pode, pela via da exploração do imaginário, ser útil à expansão da capacidade de usufruir da própria experiência subjetiva em benefício da formação estética. A simbologia dos elementos foi útil para a criação de alguns jogos que me serviram para coordenar oficinas de escrita poética. Trata-se de interferências didáticas para atingir um patamar perceptivo diferenciado do costumeiro, o que afetará a linguagem usada em sua representação. Para os poetas, tais jogos servirão para entender o processo de sua criação. Especialmente no que diz respeito aos períodos de vida em que consideram que a inspiração se esvai rápida e frequentemente. Aqueles períodos provavelmente serão propícios para conferir o instrumental [...]. (MEROLA, 2014, pp 63,64). 

 Em “O Despertar de uma paixão: a escrita”, prefácio de De que são feitas as Histórias, a escritora Lourdes Thomé se refere aos jogos de imaginação dirigida para a simbologia dos elementos como recurso para liberação da poesia: Constatei que os elementos [...] trazem beleza à vida, e [...] registrei palavras que fluíram espontaneamente de minha mente, expressando percepção e emoção. A introspecção positiva [...] aflorou bons pensamentos e consequentemente liberei a poesia e a poeta que teimavam em se esconder dentro de mim.” (Thomé, 2014, p 12). 

 Indagações necessárias a poetas em oficinas 

 “dize-me qual é o teu infinito e eu saberei o sentido do teu universo; é o infinito do mar ou do céu, é o infinito da terra profunda ou da fogueira?” (BACHELARD, 2001, p. 6). 

 Considerando que “as almas que sonham sob o signo do fogo, sob o signo da água, sob o signo do ar e sob o signo da terra revelam-se muito diferentes entre si” (BACHELARD, 1999, p. 132), qual é seu temperamento poético? 

 Observando na Mitologia: as salamandras (do fogo), as ondinas (da água), os silfos (do ar) e os gnomos (da terra)... “Diz-me qual é teu fantasma: o gnomo, a salamandra, a ondina ou a sílfide? Por acaso já não se observou que todos esses seres quiméricos são formados e nutridos de uma matéria única? O gnomo terrestre e condensado vive na fenda do rochedo, guardião do mineral e do ouro, repleto das substâncias mais compactas; a salamandra de fogo devora-se em sua própria chama; a ondina das águas desliza-se sem ruído sobre o lago e alimenta-se de seu reflexo; a sílfide, a quem a menor substância pesa, a quem a menor quantidade de álcool amedronta, que se zangaria talvez com um fumante que “suja seu elemento” (Hoffmann), eleva-se sem dificuldade no céu azul, satisfeita com sua anorexia.” (BACHELARD, 1999, p. 133). 






REFERÊNCIAS

 BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo. [La psychanalyse du feu, tradução de Paulo Neves] feu2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
____. O ar e os sonhos: ensaio sobre a imaginação do movimento. [L’air et les songes, tradução de Antonio de Pádua Danesi] 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.     


MEROLA, Edna Domenica. De que são feitas as Histórias. Postmix, 2014, pp 63, 64. 

THOMÉ, Lourdes. O Despertar de uma paixão: a escrita. In: MEROLA, De que são feitas as Histórias. Postmix, 2014, p 12.  

ADENDO I 
O instrumento de avaliação constou de 12 perguntas do tipo sim/não e uma questão aberta. As repostas foram enviadas via grupo digital de telefone. Nas respostas válidas constaram: nome, idade, e o número das perguntas de 1 a 12 cuja resposta foi sim, assim como a resposta escrita da questão 13. Segue instrumento usado para avaliação: 

1-Na maior parte do tempo do exercício consegui focar no que estava sendo falado. 
sim ( ) não ( ) 
2- Minha atenção era constantemente interrompida pelos meus pensamentos e preocupações. 
sim  ( )     não ( ) 
3- Na maior parte do tempo do exercício imaginei apenas o que estava sendo dito, sem ir além daquilo que era dito. 
sim ( )   não ( )
4- Na maior parte do tempo do exercício ultrapassei aquilo que estava sendo dito.
sim ( )   não ( ) 
5-Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as cores.
sim ( )  não ( ) 
6- Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as formas.
sim ( )   não ( ) 
7- Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram os tamanhos
sim ( ) não ( )
8- Perante o que foi sugerido senti cheiros.
sim ( ) não ( ) 
9- Perante o que foi sugerido senti pesos. 
sim ( ) não ( ) 
10- Perante o que foi sugerido senti levezas.
sim ( ) não ( ) 
11- Perante o que foi sugerido senti texturas.
 sim ( ) não ( ) 
12- Perante o que foi sugerido ouvi sons.
sim ( ) não ( ) 
13- Completar “De maneira geral, o que mais chamou minha atenção durante o exercício de imaginação dirigida foi:” 

RESPOSTAS DA PARTICIPANTE UM (14 anos) - Minha atenção era constantemente interrompida pelos meus pensamentos e preocupações. Na maior parte do tempo do exercício ultrapassei aquilo que estava sendo dito. Perante o que foi sugerido senti cheiros, pesos, levezas, texturas, ouvi sons. O que mais me chamou a atenção no exercício foram “sensações: leveza em todo o meu corpo e por onde a bola de luz passava”. Hipótese pedagógica sobre a aprendizagem da participante UM: É criativa, e pode otimizar sua capacidade treinando a escolha do foco e manutenção, praticando relaxamento e meditação. 

RESPOSTAS DO PARTICIPANTE DOIS (15 anos) Na maior parte do tempo do exercício consegui focar no que estava sendo falado e ultrapassei aquilo que estava sendo dito. Perante o que foi sugerido senti levezas e ouvi sons. O que mais me chamou a atenção no exercício foram os sons. Hipótese pedagógica sobre a aprendizagem do participante DOIS: É criativo e focado e pode enriquecer suas capacidades nas relações pelo convívio intergeracional, nas leituras e diálogos com interlocutores abalizados, nas exposições orais. 

RESPOSTAS DA PARTICIPANTE TRÊS (46 anos) Na maior parte do tempo do exercício consegui focar no que estava sendo falado e imaginei apenas o que estava sendo dito, sem ir além daquilo que era dito. Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as cores. Perante o que foi sugerido senti cheiros, pesos e levezas; ouvi sons. Hipótese sobre o bem-estar da participante TRÊS Obtém bons resultados com práticas tais como relaxamento, meditação, imaginação dirigida. Interage positivamente ao colocar a proatividade no convívio com amigos/familiares/vizinhos. 

RESPOSTAS DA PARTICIPANTE QUATRO (49 anos) Minha atenção era constantemente interrompida pelos meus pensamentos e preocupações. Na maior parte do tempo do exercício imaginei apenas o que estava sendo dito, sem ir além daquilo que era dito. Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as cores. Perante o que foi sugerido senti levezas e ouvi sons. O que mais me chamou a atenção no exercício foi a sensação da bola de luz, especialmente a luz. Hipótese sobre o bem-estar da participante QUATRO: Pode obter bons resultados com práticas tais como relaxamento, meditação e imaginação dirigida. 

RESPOSTAS DO PARTICIPANTE CINCO (63 anos) Na maior parte do tempo do exercício consegui focar no que estava sendo falado e imaginei apenas o que estava sendo dito, sem ir além daquilo que era dito. Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as cores, as formas e as levezas. Perante o que foi sugerido ouvi sons. O que mais me chamou a atenção no exercício foram as cores verde e laranja e a leveza experimentada. Hipótese sobre o bem-estar da participante CINCO: Obtém excelentes resultados com práticas tais como relaxamento, meditação e imaginação dirigida. 

RESPOSTAS DO PARTICIPANTE SEIS (76 anos) Na maior parte do tempo do exercício imaginei apenas o que estava sendo dito, sem ir além daquilo que era dito. Ao imaginar, o que chamou muito a minha atenção foram as cores. Perante o que foi sugerido senti levezas e texturas; ouvi sons. Ao iniciar estava cansada e o que mais me chamou a atenção é que ao longo do exercício fui me sentindo melhor, mais leve... Mais relaxada. Hipótese sobre o bem-estar da participante SEIS: Terá grandes benefícios ao participar de grupos de práticas tais como relaxamento, meditação e imaginação dirigida. 

ADENDO II - Pesquisas acadêmicas sobre os elementos e Bachelard 
(agradecimentos à Professora Oleni Oliveira Lobo pela consulta às referidas pesquisas)

Água, Ar, Terra E Fogo: Arquétipos das Configurações da Imaginação Poética na Metafísica de Gaston Bachelard 
Alexander de Freitas
RESUMO
O objetivo deste artigo é discutir e sistematizar as configurações da imaginação poética proposta pela metafísica de Gaston Bachelard, relacionando-as aos arquétipos dos quatro elementos (água, ar, terra e fogo). Conduzindo a análise através da relação dialógica entre o simbolismo do elemento material e sua síntese em uma das cinco configurações da imaginação poética, encontrou-se a imaginação material estruturada pelo elemento Água, a imaginação dinâmica (do movimento) situada pelo elemento ar, a imaginação dinâmica (das forças) configurada pelo elemento terra, e a imagem-lembrança e a imaginação arquetipal, ambas arregimentadas pelo elemento fogo. Por fim, pode-se concluir que a hermenêutica tetra elementar utilizada na proposição das configurações da imaginação poética é vivida e confessada pelo próprio filósofo, sendo a obsessão pelo elemento fogo, o que vai iluminar a epistemologia e a metafísica poética de Gaston Bachelard. 
Palavras-chave: Gaston Bachelard . Metafísica. Imaginação poética. 

https://gastonbachelard.org/wp-content/uploads/2015/11/29-108-1-PB.pdf


Gaston Bachelard: e a metapoética dos quatro elementos
Marcelo Bolshaw Gomes

Resumo:
Para Gaston Bachelard, o instante poético (e, consequentemente, o momento de criação artística em geralou insight criativo) é uma verticalização do tempo, que se torna mais simultâneo e menos contínuo, comparada ao transe místico e à experiência do sagrado. Bachelard é um pensador duplo: tem textos diurnos dedicados à epistemologia da ciência e textos noturnos sobre o universo simbólico da poesia. Nos textos noturnos, ele adota uma perspectiva junguiana, em que o inconsciente é coletivo e habitado por arquétipos, formas transculturais recorrentes nos sonhos e nas artes. Há ainda, na estética bachelardiana, uma experiência cognitiva visual (ou a imaginação dos olhos) e uma experiência cognitiva material (ou a imaginação das mãos). Para Bachelard, essa imaginação material e dinâmica, expressa através dos padrões recorrentes dos quatro elementos alquímicos (terra, água, ar e fogo), é a linguagem primária do inconsciente. 
Palavras-chave: Ciências humanas; Poética; Filosofia. 

Gaston Bachelard e a imaginação material e dinâmica 
André Vinícius Pessôa (UFRJ) 
Resumo:
O presente trabalho procura expor alguns pressupostos de entendimento que compõem a obra de Gaston Bachelard, visando um possível diálogo entre as suas provocações e a prática hermenêutica nos estudos literários. Destacam-se atualizações de temas que o pensador tratou com profundidade em seus escritos, como a imaginação material e dinâmica e a intuição do instante. A pedagogia de Bachelard não se constitui em mais uma teoria crítica dentre tantas. Sem a intenção de trazer verdades definitivas em torno dos fenômenos estudados, o pensador nos convida ao desafio sempre vivo de nos abrirmos às inauditas experiências do pensamento poético. 
Palavras-chave: Gaston Bachelard, imaginação material e dinâmica, instante poético.


Devaneios voltados para uma infância com o barro 
Beatran Hinterholz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil 
Sandra Richter, Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil 
Resumo:
O ensaio aborda uma experiência de escrita constituída no percurso de estudos e pesquisa acadêmica circunscritos pela relação entre educação, infância e fenomenologia da imaginação poética em Gaston Bachelard. Da sugestão bachelardiana de substituir diante do mundo a percepção pela admiração, para reter os valores daquilo que se percebe, emerge uma escrita tingida tanto pelos encontros com bebês, crianças pequenas e suas professoras na educação infantil quanto pelos devaneios da primeira autora a partir das imagens fotográficas das brincadeiras com o barro. Para descrever e refletir a complexidade dos devaneios voltados para uma experiência de infância, desde a admiração e a interpretação de imagens fotográficas, optamos pela fenomenologia bachelardiana da imaginação poética. Assumir a admiração como possibilidade de ultrapassar o percebido, como modo de reencontrar e prolongar – pela imaginação – as forças que estão no mundo, é transgredir uma escrita que explica e verifica para priorizar o movimento entre sonhar e pensar provocado pelos valores de uma infância que dinamizam reservas de entusiasmo que nos convidam a habitar e participar do mundo com outras palavras. Palavras-chave: devaneio; infância; Bachelard; filosofia; educação. 

ADENDO III 
Sugestões de Leituras
 
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988 
______. A Água e os Sonhos Ensaio Sobre a Imaginação da Matéria. Martins Fontes, 1998.
 ______. O Ar e os Sonhos. Martins Fontes, 2009
 ______. A Terra e os Desvaneios da Vontade. Martins Fontes 1991. 
______. A Psicanálise do Fogo. Martins Fontes, 1999.

ADENDO IV
Links das imagens

Oficina de Leitura reflexiva do texto para teatro O crush da professora "Z" Maria de Edna Domenica Merola

 26/04/2022   O crush da Professora “Z” Maria   Tendo por chave o Teatro do Absurdo, relembro A Cantora Careca , de Ionesco, e pre...